Ataques aéreos dos EUA na Somália aumentaram em 2022. O US Africa Command (US AFRICOM) realizou mais de uma dúzia de ataques aéreos na Somália em 2022 em suas operações de contraterrorismo contra o al-Shabab e auxiliando o governo somali, um aumento de mais de 30% em relação ao ano anterior. Congressistas americana, no entanto, examinaram as operações do US AFRICOM, alegando haver contagens imprecisas de baixas civis e falta de ênfase na boa governança.
O Pentágono conduziu 15 ataques aéreos em 2022 contra o grupo al-Shabab, ligado à Al Qaeda, de acordo com o rastreador do Long War Journal. Segundo dados do US AFRICOM, esses ataques mataram 107 combatentes do al-Shabab. No entanto, uma ação registrada em fevereiro de 2022 pelo AFRICOM não trouxe números oficiais, alegando que uma “avaliação de danos de batalha ainda está pendente”, o que aumentar a estatística de mortos. Em 2021, o AFRICOM realizou um número ligeiramente menor de ataques, 11 no total. O comando realizou 45 em 2020 e 59 em 2019, um recorde desde o início das operações dos EUA.
O grupo terrorista, originalmente o grupo militante do Conselho Somali de Tribunais Islâmicos, assumiu grande parte do sul da Somália em 2006, conforme o Guia de Contraterrorismo do Diretor de Inteligência Nacional. Após a derrota para as forças etíopes e somalis em 2007, o grupo continuou sua insurgência em todo o país, ganhando pontos de apoio em partes do sul. O grupo também realizou ataques terroristas em um shopping center em 2013, matando 67 pessoas em Nairóbi, no Quênia, e em 2014 em uma universidade no Quênia, onde mais de 150 estudantes, principalmente cristãos, foram massacrados.
Em 2023, o al-Shabab continuou a atacar o governo da Somália, incluindo ataques na capital Mogadíscio. Em 4 de janeiro, a Associated Press informou que 10 pessoas foram mortas por homens-bomba que visavam uma instalação militar vista como epicentro da ofensiva do governo contra os extremistas. Em um relatório conjunto do Inspetor Geral de 2020, investigadores do Departamento de Estado, Agência dos EUA para o Desenvolvimento Internacional e o Pentágono disseram acreditar que o al-Shabab tenha entre 5.000 a 10.000 combatentes na Somália.
O Pentágono sanciona ataques aéreos na Somália por meio da Autorização para o Uso de Força Militar de 2001, aprovada após os ataques terroristas de 11 de setembro. Desde sua aprovação, os Estados Unidos usaram a AUMF 2001 para destacar forças americanas e conduzir ataques em países como Afeganistão, Iêmen, Quênia, Iraque e Djibuti como parte da Guerra Global ao Terror.
Parlamentares criticam os ataque na Somália — Alguns Congressistas veem rejeitando as operações de contraterrorismo do Pentágono no continente — e na Somália em particular — devido à sua alegada ineficácia e avaliações imprecisas dos impactos que tais ataques aéreos têm sobre as populações civis. Em dezembro, a deputada Sara Jacobs (Democratas — CA) e a senadora Elizabeth Warren (Democrata — MS), enviaram uma carta ao secretário de Defesa Lloyd Austin, expressando preocupação com o relatório de vítimas civis do Pentágono divulgado em setembro. Os legisladores argumentaram que o relatório subestimava as baixas civis em comparação com os relatórios de várias organizações não governamentais e de direitos humanos.
“Se as fontes militares não mostraram evidências de baixas civis, isso foi frequentemente usado para justificar a conclusão de que os relatórios não eram confiáveis”, disse a carta. “Isso não dá o devido peso aos relatórios de fontes externas e coloca mais confiança em fontes militares… As discrepâncias significativas entre o Departamento de Defesa e relatórios externos sugerem que fontes externas ainda não estão sendo suficientemente incorporadas nas avaliações do Departamento de Defesa].”
A carta se referia a um estudo encomendado pelo Pentágono em 2021 pela RAND Corporation, que afirma que os padrões militares para a contagem de baixas civis, especialmente em edifícios, costumam ser mais altos do que o padrão escrito. Os autores do relatório argumentaram que os militares têm uma “propensão observada” para perder civis quando ataques aéreos atingem edifícios ou estruturas. Por outro lado o AFRICOM afirmou que nenhuma de suas operações em 2022 levou à morte de civis.
“Não há estratégia coerente ou justificativa legal razoável por trás do aumento de ataques aéreos na Somália”, disse Sara Jacobs a imprensa. “Depois de quase duas décadas de uma abordagem militar, está claro que mais ataques aéreos não tornam o povo da Somália ou dos Estados Unidos mais seguro ou nos aproximam da paz.”
Jacobs acrescentou que uma “estratégia unificada de longo prazo que aborde as causas profundas do conflito é necessária para combater o al-Shabab e estabilizar o país, incluindo maiores esforços em boa governança e reformas do setor de segurança”.
Soldados enviados — novamente — à medida que a atividade terrorista cresce Os ataques aéreos, no entanto, não são a única ferramenta utilizada pelos Estados Unidos. Unidades militares também entraram e saíram do país nos últimos anos.
Em dezembro de 2020, o governo Trump anunciou que os cerca de 700 soldados na Somália treinando forças do governo seriam realocados para países vizinhos, como Quênia e Djibuti. A retirada foi concluída em 17 de janeiro do ano seguinte. Apesar da ordem de Trump, as forças dos EUA continuaram a se deslocar para a Somália para rotações curtas, trabalhando no treinamento de forças locais e na condução de operações. Em depoimento ao Congresso em março de 2021, o então chefe do AFRICOM, o Ggeneral do US Army Stephen Townsend, chamou as rotações de tropas americanas na Somália de “não efetivas”.
No entanto, 18 meses após a decisão do governo Trump, o governo Biden mudou de rumo. Anunciou em maio de 2021 que menos de 500 soldados seriam mobilizados para conduzir operações e treinar forças somalis, mas se recusou a fornecer um número mais específico. A mudança foi motivada pelo que os funcionários do governo Biden viam como uma ameaça crescente do al-Shabab na região. Embora as forças dos EUA tenham operado na Somália, a atividade terrorista cresceu em todo o continente. Em agosto, o escritório de pesquisa do Pentágono na África escreveu que a atividade extremista violenta na África aumentou mais de 300% em relação à década anterior — e dobrou desde 2019.
@CAS