Se entre os caças de quarta geração e quarta geração e meia, o maior sucesso de vendas foi o Lockheed Martin F-16 Fighting Falcon em suas diversas versões, a quinta geração tem no Lockheed Martin F-35 Lightning II o seu campeão. Russos e chineses também desenvolveram aeronaves que incorporam elementos que garantem a furtividade, a superagilidade, o voo supercruise e sistemas, sensores e armas em redes, mas estão atrasados frente aos norte-americanos.
Os F-35, quando lançados, eram os caças mais caros do mercado*, pois competiam com aviões de geração anterior (Lockheed Martin F-16, Boeing F/A-18 e F-15, Dassault Mirage 2.000 e Rafale, Saab Gripen, Eurofighter Typhoon, Sukhoi Su-35).
Mesmo com um preço recorde para a época, e severas críticas ao programa, o F-35 acabou sendo adquirido por 16 países, em um total (até aqui, e sem contar com os EUA) de 875 aeronaves. Como o F-35 foi concebido para três das quatro forças armadas norte-americanas, só aquele país irá receber 2.456 células desde o começo de suas entregas até 2044. Em comparação, todos os seus competidores não norte-americanos, juntos, fabricaram cerca de 25% de sua produção.
Assim como ocorreu com o F-16, no passado, diversos países europeus escolheram o F-35 para defender os seus céus: Bélgica, Holanda, Dinamarca, Finlândia, Alemanha, Itália, Noruega, Polônia, Suíça e Reino Unido. A Grécia e a República Tcheca também já iniciaram discussões para comprar o caça americano e da OTAN.
Outros países europeus como Portugal, Espanha, Áustria, Romênia e Hungria terão que renovar suas frotas. Nem todos fizeram suas escolhas pelo viés puramente técnico. Ter o peso da geopolítica americana por trás de si influenciou muitas dessas decisões nacionais.
E é aí, na interoperabilidade entre os diversos países da OTAN, na furtividade do avião que lhe dá enorme vantagem sobre os radares atuais e na vasta gama de bem planejados upgrades já anunciados para o futuro, que reside a vantagem do F-35.
Este passeio do avião da Lockheed no continente europeu mexeu com a indústria aeroespacial local, que, incapaz de se amalgamar para obter uma presença comercial forte, preferiu apostar em programas nacionais ou multinacionais de menor abrangência, o que acabou fazendo com que competissem entre si.
Ingleses, alemães e italianos já haviam se unido na década de 1970, para garantir que o seu caça/caça-bombardeiro Tornado começasse sua vida com 870 células vendidas para os três países parceiros. No entanto, os franceses ficaram de fora, e produziram o Mirage 2000. Resultado: os Tornado conseguiram ser vendidos para a Arábia Saudita, e o Mirage, para oito países, sendo somente um deles, a Grécia, europeu. Nesse ambiente, os EUA venderam 1.082 caças F-16 para países europeus. Mas a lição não foi aprendida. A rodada seguinte viu situação igual: Alemanha, Itália, Grã-Bretanha e Espanha desenvolveram o Eurofighter Typhoon, dos quais 472 foram para os países do consórcio. A França, contudo, seguiu seu caminho e fabricou 240 caças Rafale. Some-se a isso um novo “player”, a Suécia, que entrou no mercado com o JAS 39 Gripen. O Lockheed F-35 Lightning II, por sua vez, colocou 528 aeronaves na Europa seja em via de serem entregues, ou em opções futuras. E as vendas ainda estão longe de terem chegado ao fim.
Apesar de o antigo modelo comercial da indústria de defesa preconizar que sistemas de armas vendidos no exterior devem nortear as planilhas de novos programas, ele ainda não parece ter vingado por completo na Europa. Os programas com vendas iniciais garantidas, muito empregados nos EUA continuam trazendo vantagens para os caças da Lockheed e da Boeing. Para a próxima rodada, que prevê a entrega de caças de sexta geração a partir de 2030, já existem ao menos dois programas concorrentes; o FCAS, que reúne França, Alemanha e Espanha, e o GCAP, com Grã-Bretanha, Itália e Japão. A Suécia observa de fora. Mas será que todas as tecnologias necessárias para garantir um caça de sexta geração em 8 anos já estão dominadas? Aeronaves tripuladas, mesmo nesses prazos mais curtos, podem ou não vingar. Sistemas disruptivos como mísseis, lasers e drones avançados estão chegando de forma avassaladora, prometendo uma revolução na maneira de se fazer a guerra.
Será que os programas acima não serão engolidos por uma revolução da robotização?
Será que os novos sistemas não vão superá-los em tempo e custo benefício?
Não é hora de inventar aventuras, buscando vetores e sistemas existentes que, em breve, estarão obsoletos para satisfazer a fome de indústrias e governos, como, por exemplo, outros aviões de caça.
Mais vale definir para onde vai a “nossa guerra” e buscar um espaço de parceria, ou, por que não, saltar essa etapa e ver se o complexo avião tripulado vai, de fato, sobreviver…
*O F-22 Raptor não está à venda, por incorporar tecnologias consideradas muito avançadas.