Treinamento de pilotos da RAF estaria no “limbo”. Informações dão conta que o treinamento de pilotos da Royal Air Force (RAF) continuam a apresentar problemas, especialmente, com a formação dos pilotos de Lockheed Martin F-35B, que para alguns analistas, está no limite de aceitável em termos operacionais. Este limite, pode pôr em check a operacionalidade diante de uma necessidade operacional.
Atualmente, o Reino Unido possui 27 aeronaves F-35B e um total combinado de 33 pilotos operacionais, incluindo aí três pilotos/instrutores de fora da RAF, vindos em intercâmbio da USAF, USMC da RAAF (Royal Australian Air Foce). Segundo dados do Comitê de Defesa do Reino Unido, fornecidos em 2 de novembro pelo Secretário de Defesa Ben Wallace, “ainda não temos uma quantidade impressionante” de pilotos, apenas 24 horas depois de ele mesmo ter declarado erroneamente em uma sessão da Câmara dos Lordes, que o Reino Unido tinha menos pilotos qualificados que aeronaves F-35B.
Sobre os atrasos no treinamento de pilotos do UK, Wallace disse ao Comitê de Defesa que “retrocedemos desde quando dei minhas instruções ao Chefe do Estado-Maior Aéreo — o Marechal do Ar Mike Wigston para normatizar o treinamento”. Problemas com o treinamento rápido de jatos foram amplamente documentados nos últimos meses, com pilotos em formação em várias estágios na RAF esperando anos em uma atormentada fila, devido a problemas de confiabilidade com os jatos de treinamento Hawk, entre outros problemas, oriundos inclusive do treinamento privado estabelecido pelo Reino Unido no UKMFTS — UK Military Flying Training System.
Em 11 de outubro, James Heappey, Ministro de Estado do Ministério da Defesa e Ministro das Forças Armadas, declarou em uma resposta parlamentar escrita que as medidas para compensar os atrasos no treinamento de pilotos militares do Reino Unido incluíam o envio de estagiários para o Treinamento Conjunto de Pilotos a Jato da OTAN nos EUA (NATO Joint Jet Pilot Training), como bem como acelerar o planejamento do No 11 Sqn (a unidade conjunta Qatar/UK de Typhoon) para treinar pilotos entre o final de 2022 até 2027.
Mesmo sem os atrasos, são necessários vários anos para treinar os pilotos nos principais caças da linha de frente do Reino Unido, como o F-35B e o Eurofighter Typhoon. De acordo com números oficiais do governo do Reino Unido, o tempo médio de espera para os pilotos estagiários da RAF desde a conclusão do Sistema de Treinamento de Voo Militar (UK MFTS) até o início de suas Unidades de Conversão Operacional para Typhoon e F-35 é de aproximadamente 11 e 12 meses, respectivamente.
Em 25 de outubro, foi revelado que o tempo médio entre o início do curso de conversão operacional do Lightning II e a obtenção do status de pronto para combate é de 20 meses. Houve também, em média, um intervalo de 68 semanas entre a conclusão do Treinamento Básico de Voo e o início do Treinamento Avançado de Caça para pilotos da RAF.
O Reino Unido está comprometido em comprar 138 caças F-35 ao longo da vida útil do programa, um número reiterado em 17 de outubro em uma resposta parlamentar escrita. A intenção é aumentar o tamanho da frota de F-35B do Reino Unido para 48 aeronaves até 2025 e chegar a 74 “no final da década”, afirmou o Secretário de Defesa Ben Wallace.
As ambições de o Reino Unido colocar em campo 74 caças F-35 até o final da década podem ajudar a garantir uma melhor relação com os EUA. O anúncio ocorreu em um momento de grande mudança no ambiente de segurança global, pois o Reino Unido ainda busca reafirmar sua posição na indústria de defesa em um mundo pós-Brexit. A importância financeira do F-35 e de outros programas não deve ser subestimada com aliados como os EUA, valorizando muito o compromisso econômico com a defesa demonstrado pelo Reino Unido.
A nova Estratégia de Segurança Nacional dos EUA (NSS), publicada em outubro, não faz menção a laços bilaterais distintos com o Reino Unido, referindo-se apenas ao Reino Unido no contexto de estruturas de segurança multinacionais como AUKUS ou Five Eyes, ou como membro de grupos geopolíticos como o G7.
Em vez disso, a Casa Branca procurou promover os laços com a União Europeia (UE), fazendo menção à UE e à Comissão Europeia não menos de 16 vezes no NSS, incluindo uma referência ao “aumento da ambição da relação EUA-UE”.
No entanto, esforços conjuntos de compras, como o F-35, podem ajudar a garantir laços com os EUA, fornecendo um fluxo de receita para os EUA, enquanto a indústria do Reino Unido também se beneficiaria devido à sua participação de 15% no programa. Os pilotos de caça da RAF normalmente levam 4,8 anos para chegar à unidade de conversão operacional de sua aeronave especificada. Isso não inclui o tempo necessário para recrutar ou conduzir o treinamento básico de oficiais, o que significa que o Reino Unido ainda terá dificuldades para preencher o novo requisito de pilotos até o final da década.
Colapso financeiro é um problema. Embora não seja uma cura para os problemas de treinamento do Reino Unido, a intenção planejada de aumentar os gastos com defesa em até 3% do PIB, acima dos atuais 2,2%, poderia ter oferecido recursos adicionais para terceirizar ainda mais o treinamento de pilotos do Reino Unido. Como o Reino Unido, a USMC voa a variante F-35B STOVL, potencialmente fornecendo uma solução de curto e médio prazo para problemas contínuos de treinamento neste modelo, inclusive com a possibilidade de haver envio de aviadores ingleses para as unidades do USMC.
No entanto, o colapso financeiro do Reino Unido, causado por uma variedade de fatores de governança inepta, a guerra na Ucrânia, fraquezas da moeda e uma recessão iminente, provavelmente mais longa do que a Grande Depressão, amorteceu a maioria das aspirações de aumentar os gastos. Com o financiamento de defesa aprovado até 2024, data provável para as próximas eleições, os aumentos de gastos na segunda metade da década podem ser adiados ou até arquivados, já que o Ministério da Defesa do Reino Unido (MoD) busca simplesmente manter os planos de financiamento atuais.
Com o colapso do governo da Primeira Ministra Liz Truss, após seis semanas caóticas no poder, a presidência do primeiro-ministro Rishi Sunak, auxiliado pelo chanceler Jeremy Hunt, parece destinada a exigir economias eficientes em todos os departamentos do governo. Com a declaração orçamentária do outono prevista para ser anunciada em 17 de novembro, todos os olhos estarão no Departamento do Tesouro, para ver o impacto que a crise financeira terá nos gastos e claro isto poderá agravar a situação da RAF.
@CAS