100 anos da Aviação Naval Uruguaia. A Aviação Naval Uruguaia celebrou no dia 7 de fevereiro seu centenário, em uma cerimônia realizada na sede operacional da Aviação Naval, em Laguna del Sauce, Punta del Este.
O presidente, Luis Lacalle Pou, e o ministro da Defesa, Armando Castaingdebat, visitaram na manhã da sexta-feira – 7/02, a sede operacional da Aviação Naval, a Base Aérea Naval nº 2, C/C Carlos A Curbelo (Laguna del Sauce, Punta del Este), juntamente com diversas autoridades navais, para comemorar o centenário do Corpo de Aviação Naval. O Dr. Lacalle Pou, acompanhado pelo Comandante da Aviação Naval, Capitão de Navio Nicolás Sanguinetti, passaram a tropa em revista.
No evento, o Presidente da República entregou ao Capitão de Fragata (Doutor) Gabriel Pincelli a “Medalha 15 de novembro de 1817”, em reconhecimento à sua destacada trajetória e contribuições fundamentais ao desenvolvimento de iniciativas que fortaleceram a medicina aeronáutica. Destacou-se em seus 30 anos de serviço por ser o médico aeronaval com maior número de evacuações no mar, bem como o médico com maior número de transferências aeromédicas em todo o país. Como lembrança, o presidente Lacalle recebeu um modelo de helicóptero Bell 222, utilizado pela Aviação Naval na década de 1980.
Por sua vez, os Correios do Uruguai emitiram um selo comemorativo pelo aniversário. O oficial de mais alta patente da Aviação Naval, C/N Nicolás Sanguinetti, iniciou seu discurso afirmando que “a presença na Base do Comandante em Chefe das Forças Armadas (o Presidente da República) implica a importância deste evento para o país”. Ele também lembrou, em um breve resumo, que “quando a Aviação Naval estava prestes a nascer, por volta do ano de 1914, estourou a Primeira Guerra Mundial e tudo isso foi suspenso, embora o germe permanecesse. Assim, no ano de 1925, em um distante 7 de fevereiro, foi criado por lei orçamentária o então Serviço Aeronáutico da Marinha. Mais tarde, foi chamado de Comando de Aviação Naval.
Hoje, o Uruguai tem 250.000 quilômetros quadrados de mar contra pouco mais de 170.000 de terra. Neste contexto, a Aviação Naval continua muito importante para a Marinha, como ele destacou.
“Os mesmos princípios que levaram à sua criação em 1925 não só existem ainda hoje, como há ainda mais razões para a Marinha ter esta Aviação Naval. O objetivo não era chegar aos 100 anos…Chegar aos 100 anos foi apenas uma consequência”.
Uma história de mais de um século
De fato, antes da criação deste Corpo, seu fundador, o futuro Contra-Almirante Atílio Frigerio, ingressou na Escola Militar de Aviano em 1912, após um longo processo levado a cabo pela Marinha Uruguaia, com a intenção de começar a formar uma aviação naval. Ele foi enviado pela Marinha para aprimorar seu treinamento em eletrônica na Escola Alejandro Volta.
Uma vez na Itália, tendo conhecimento do desenvolvimento da aviação e com base em sua experiência profissional, planejou a utilização deste novo tipo de veículo para fins navais, o que o levou a tramitar junto ao governo uruguaio sua inscrição no Curso de Pilotagem da mencionada Escola de Aviano.
Um esforço insistente da Marinha Nacional levou então a que o Alferes Frigerio fosse incluído como exceção, uma vez que estrangeiros não eram admitidos ali. Frigerio então fez o curso respectivo e em 8 de agosto de 1912 fez seu primeiro voo solo, obtendo o brevet aprovado pela Federação Aeronáutica Internacional, com o número 154 e o número 13 na Itália. Seu nome aparece no Uruguai como o primeiro Aviador Nacional e Militar deste país, e na Itália, na Lista Oficial dos Pioneiros da Aviação, além de ter sido o primeiro piloto não europeu formado em Aviano.
Assim, finalmente, em 1925, surgiu o Serviço Aeronáutico Naval, mais tarde Aviação Naval, que não seria equipado com aviões até 1930, quando chegaram dois Cant 18 e um 21, estabelecendo, por volta de 1933, sua Base Aérea Naval nº 1 (hoje desativada), na Ilha Libertad, na baía do porto de Montevidéu. Desde 1942, depois de anos difíceis, a Armada Uruguaya passou a contar com aeronaves americanas, que foram obtidas a preços muito vantajosos durante décadas.
Primeiro seriam os Vought-Sikorsky OS2U-3 Kingfisher, depois os caças TBM Avenger, Fairchild PT 23, SNJ, Grumman Hellcat F6F/5 e, em meados da década de 1950, após um desastre naval, os dois primeiros helicópteros Bell 47G, bem como o primeiro Piper Super Cub para çigação, além do enorme PBM Martin Mariner.
Em 1965, por conta do Programa de Ajuda Militar acordado com o Governo dos Estados Unidos, chegaram três Grumman S2A Tracker, a primeira aeronave no Uruguai adequada para guerra antissubmarina (ASW – Anti Submarine Warfare).
Em 1966, o primeiro Beechcraft T-34A para a Escola de Aviação Naval, que também foi primeiro Mentor com as cores militares uruguaias. Em 1971, junto com outros Bell 47G, chegaram os primeiros helicópteros de grande porte, na forma de dois SH-34G, que foram perdidos em um terrível acidente durante uma exposição na praia de Pocitos, Montevidéu. Eles foram substituídos, no final de 1972, por outros 4 CH-34C, junto com dois que foram entregues desmontados para serem usados como peças de reposição. Todos eram ex-US Navy.
Os turboélices chegaram em 1981: primeiro foi um B-200T navalizado, projetado pela Beechcraft e usado como demonstrador pelo fabricante, até ser adquirido pelo Uruguai, junto com três Beechcraft T-34C1 e um helicóptero Bell 222, que, assim como dois Bell 212 para a Força Aérea, foram os primeiros a chegar voando ao país.
O Bell 222 raramente foi usado devido às suas limitações de potência para a função, sendo substituído em 1992 por dois Westland Wessex 60, aos quais foram adicionados por uma terceira unidade, em 1995, e mais cinco Wessex HC-Mk.II vindos Base da Royal Navy de Shawbury. Em 2006, chegou um bimotor Esquilo, doado no final de sua carreira pela Marinha do Brasil, que seria o primeiro helicóptero naval uruguaio a operar na Antártida.
Anteriormente, em 1999, em seu primeiro voo de transferência para a América do Sul via Atlântico Sul, duas aeronaves Handley Page Jetstream Mk.II ex-Royal Navy chegariam a Curbelo. Neste século, em 2007, a primeira aquisição seria um lote alemão de helicópteros BO-105 PAH (PanzerAbwelrhubsHrauber). Em 2008, durante o socorro de tropas e equipamentos designados à Missão de Estabilização do Haiti (MINUSTAH), um deles, o A62, teve que realizar diversas missões humanitárias após o furacão Gustav, voando até 17 horas de voo.
Já em 2009, outro BO-105 voaria para a Antártida. Por volta de 2013 chegou um segundo Beechcraft B-200, o A-872, desta vez um modelo de produção, comprado usado e em muito bom estado na Suíça, sendo um exemplar fabricado em 1982 (c/n BB-1079), e, diferentemente do A-871, equipado com hélices quadripás, radar meteorológico, TCAS, telefonia e navegação por satélite, um link de dados quase caseiro, baseado em sistemas básicos de TNC, além de implementar compatibilidade com óculos de visão noturna (NVG) e outros sensores.
Além do Beechcraft B200 e do T-34C1, a Aviação Naval inclui hoje três Cessna 0-2 emprestados pela Marinha do Chile há algum tempo, um helicóptero Bell OH-58 (adquirido no Canadá) e dois helicópteros italianos Agusta-Bell (hoje Leonardo) AB412, normalmente usados para missões SAR e transferências médicas.
Estrutura
Sendo uma dependência do Comando da Frota (COMFLO), é chefiada pelo Comandante da Aviação Naval (COMAN), do qual dependem o Estado-Maior General (ESMAN), a Escola de Aviação Naval C/C Mayo Villagrán (ESANA), a Diretoria de Segurança Aeronaval (DISEA), o Chefe de Material Aeronaval (JEMAN) e o Chefe da Força Aeronaval (JEFAN). Deste último depende a Base Aérea Naval n.º 2 (BAEN2); o Grupo de Esquadrão (ESCAN); e Manutenção Geral (MAGAN).
Pavalvras do Comandante
Sobre a tecnologia presente e futura da Aviação Naval Uruguaia, seu Comandante, C/N Nicolás Sanguinetti declarou à Revista Força Aérea alguns conceitos fundamentais:
“A frota está equilibrada e balanceada, encontrando uma logística baseada na Textron, uma holding que agrupa Bell, Beechcraft e Cessna, o que é um ponto forte para nós, pois sendo empresas em plena atividade e com milhares de unidades fabricadas, isso nos garante um claro suporte logístico no futuro”.
Novas aeronaves?
“Bem… Também estamos constantemente estudando a adição de mais unidades, embora de modelos existentes. Não é nosso desejo gerar heterogeneidade de marcas. Neste momento há um bom equilíbrio entre o desempenho das máquinas que existem e sua real capacidade de manutenção. Neste sentido, a capacidade técnica da unidade de manutenção é uma grande fortaleza, pois, exceto pela revisão de turbinas e alguns componentes, tudo pode ser feito dentro da Aviação Naval, conseguindo assim, talvez, a hora de voo militar mais barata da América sem representar uma diminuição na segurança. Pelo contrário, cada aeronave é tratada como uma criança e esse amor das pessoas pelas máquinas é um valor agregado na entrega e abnegação para cumprir as metas estabelecidas. Por isso temos praticamente 90% da frota ativa. Não obstante o exposto acima, está sendo realizado um estudo considerando qual aeronave seria a melhor aeronave para substituir o T-34C-1 até 2035, que completará 55 anos de serviço até então. Certamente, embora seu estado de manutenção seja excelente, a visão institucional sempre nos faz olhar pelo menos 10 anos à frente. Existem algumas opções reais disponíveis no mercado atualmente, que é melhor manter em reserva (provavelmente alternativas mais modestas do que as da Embraer ou Pilatus, embora com motores P&W PT-6). A verdade é que a aeronave que eventualmente os substituirá deverá, no mínimo, exceder as mesmas capacidades existentes hoje”.
A Frota de aeronaves de ligação?
“Os Cessna 337/O2 são realmente muito fáceis de manter, porém, no futuro, em 2035, a ideia está próxima da Beechcraft Baron, o que significa padronizar ainda mais toda a asa fixa e, caso os T-34 ainda não sejam substituídos, eles compartilham grande parte das peças de reposição”.
Helicópteros?
“Todo o esforço é para tentar tirar mais proveito do que já temos. Isso simplifica a manutenção e permite, com a rotação adequada, ter perto de 100% de operabilidade em todos os modelos”.
O Capitão de Navio (CG) Nicolás Sanguinetti formou-se na Escola Naval em 1999 e posteriormente concluiu a 20ª viagem de treinamento a bordo do Capitão Miranda. Em 2001 serviu no caça-minas ROU 31 Temerario. Passou então a prestar serviços à Escola de Aviação Naval como aluno da 37ª Promoção daquele instituto, obtendo as Asas de Aviador Naval, passando posteriormente a depender operacionalmente do Naval Aviation Squadron Group, onde se qualificou como piloto de Beechcraft King Air 200T.
Em 2006 obteve a licenciatura em Sistemas Navales e em 2008 concluiu o curso de Instrutor de Voo, passando a prestar serviços na Escola de Aviação Naval como Instrutor. e Chefe do Departamento de Cursos da ESANA, e posteriormente passou a dirigi-lo. Participou também da missão que trouxe o segundo B-200 da Marinha ao Uruguai, da Suíça, no final de 2012, e em 2018 liderou a transferência do Chile dos três Cessna O-2 que a Marinha daquele país doou à sua contraparte uruguaia. Ele comanda a Aviação Naval desde fevereiro de 2020.
Vários convidados estrangeiros compareceram a essas celebrações em Punta del Este. No caso do Brasil, eles eram liderados Comandante do 5º Distrito Naval (Rio Grande), Vice-Almirante Augusto José da Silva Fonseca Junior, um dos formandos como piloto de asa fixa da Escola de Aviação Naval C/C Mayo Villagrán, na década de 90, quando a Marinha do Brasil voltou a ter esse tipo de vetores.
Texto: Javier Bonilla.
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